Me encanta ver gente muito rica fazendo coisa de gente muito rica. Quase um olhar antropológico, tirando toda a antropologia de fato.
Se você ainda não sabe do que eu tô falando, a Revista Piauí lançou recentemente uma entrevista de 2023 com Charles Cosac - o criador da finada Cosac Naify, uma editora que fechou em 2015 e deixou uma parcela de entusiastas de design e literatura em luto. Isso porque a editora trabalhava com títulos selecionados em edições com design cuidadoso e original, tudo isso por um preço relativamente baixo.
Anos depois, um dos antigos donos avisa que vai voltar a trabalhar no ramo editorial, dessa vez com o nome Cosac Edições. E a galera foi à loucura. Particularmente, realinhou meus chakras.
A entrevista da Piauí é para entrevistar justamente ele: o sei lá quantas vezes bilionário Charles Cosac, que conta a história de como criou, viveu e fechou a antiga editora, além de trazer as novas mudanças para seu novo projeto.
Acontece que o cara é muito rico, e sempre foi assim. Ele cresceu em um berço de ouro e o mais interessante é que tem uma relativa noção do que isso afetou ele. Um autoconhecimento enorme, parabéns ao terapeuta do divo.
Vale ressaltar que os internautas estão chamando-o de mistura entre Narcisa Tamborindeguye e Walter Salles:
Então, caso você não queira assistir aos 40 minutos de entrevista (o que é um erro, porque vale muito a pena), segue meus momentos favoritos para destaque:
Quando ele conta que, na infância, os pais mandaram ele para um intercâmbio na Inglaterra. Mas, por não ser o filho perfeito que acreditava que seu pai valorizava, ele se referiu a isso como “minha exportação para a Inglaterra”. Risos.
Falando na infância dele, sabe quando foi a primeira vez que ele atravessou a rua sozinho? AOS 13 ANOS! Isso por conta da superproteção que os pais tinham com ele. E o mais interessante: ele considera isso um dos momentos mais importantes da vida dele. Autoconhecimento é tudo.
Quando ele fala “fui criado como um idiota” por ser rico demais. Aí ele não desenvolveu o que era necessário e hoje sofre as consequências disso.
A Cosac Naify só existiu porque ele queria trabalhar. Um milionário que queria trabalhar mais que tudo como editor de livros e criou uma editora conceituada para isso. No fim, a editora nunca trouxe dinheiro para ele, muito pelo contrário: ele pagou para trabalhar durante os 20 anos que ela ficou aberta. Inclusive, essa resposta dele para uma entrevista da folha resume bem o caso:
Depois que ele decidiu fechar em respeito aos funcionários, ele foi trabalhar de fato (por diversão) mas viu que não valia a pena. Nas palavras dele: “Eu ganhava R$4 mil reais, meu aluguel só era R$16 mil.
Ele critica muito nessa entrevista (e críticas válidas). Entre elas: Fernanda Montenegro (por liderar um movimento de vício pelo Rio de Janeiro), o Rio de Janeiro + cariocas, São Paulo + paulistas, a USP, a lingua alemã, entre outros.
Um momento de ponto alto é quando ele chama todos os bilionários brasileiros de bregas e caipiras.
Por fim, quando ele fala sobre querer muito ir para um asilo na Áustria mas ele que não quer passar seus últimos anos falando inglês - o que faz muito sentido pra mim.
Extra: pedi para minha amiga Beazie me falar os momentos favoritos dela. Entre as que eu já citei, vale mencionar:
A verdade é que esse cara é uma referência para a cultura editorial e continua sendo. Espero que cada vez mais tenhamos mais ricos que fazem esse tipo de coisa para deixar um ótimo legado - bem longe de Balneário Camboriú, jogo do tigrinho e Virginia Fonseca.
Um parabéns ao jornalista Tiago Coelho, espero que esteja tendo bons frutos depois dessa matéria.
Este apanhadão sobre a entrevista é um achado! Gratidão ao Substack por ter me enviado!
Fazia muito tempo que eu não via uma entrevista tão boa! Obrigada Tiago pro nos entregar essa pérola (olhando meus livro da Cosac com uma dose de carinho extra).